Por Henrique Machado Dias*
A humanidade precisa dos produtos dos ecossistemas, como água, alimentos, madeira, fibras, regulação climática e ciclagem de nutrientes. Para aumentar a produção, nossa espécie gera importantes efeitos colaterais nos ecossistemas naturais e na biodiversidade. É sabido que o componente antrópico é a causa de diversos desequilíbrios em ecossistemas. Esse fato é decorrente de diferentes fatores, tais como: busca de retorno no curto prazo; baixo nível de conhecimento técnico; desconhecimento das possibilidades de conciliar o uso dos recursos naturais com a manutenção da biodiversidade; desconhecimento e/ou desobediência à legislação; e até mesmo a falta de respeito (ético e moral) ao meio ambiente.
Desde a colonização europeia, a Mata Atlântica vem sofrendo constantes processos de fragmentação florestal, oriundo de diferentes ciclos de ocupação da terra, onde a alteração da paisagem primitiva promovida pelo ser humano é bem maior do que a dinâmica de perturbação natural do ecossistema. Por consequência, tal processo de fragmentação reduziu a área original deste bioma para aproximadamente 12%. Ela também abrange as maiores cidades e regiões metropolitanas do Brasil, com mais de 145 milhões de pessoas, sendo 80% da produção econômica nacional gerada nessa região, considerada o centro socioeconômico do país.
Devido à sua significativa contribuição para a diversidade biológica planetária e ao seu elevado nível de degradação, a Mata Atlântica foi eleita um dos 25 hotspots de biodiversidade do mundo e, por isso, tem sido alvo de uma série de iniciativas pelos biólogos que buscam orientar a conservação de seus remanescentes. Este bioma inspira atenção no que diz respeito às políticas públicas de conservação da natureza, e os biólogos devem auxiliar os gestores públicos na criação, gestão e manutenção dos remanescentes e das áreas protegidas, fornecendo subsídios para preservação, indicando áreas prioritárias para restauração e formação de corredores ecológicos.
O reconhecimento biológico deste bioma pode contribuir com informações para a dedução de relações ecológicas, funcionais e ecossistêmicas e esse conhecimento inicial relativo à diversidade biológica é atestado por diferentes estudos científicos, através dos quais os profissionais em biologia comparam dentro e entre formações florestais, suas mais diferentes formas de vida.
A vulnerabilidade que a Mata Atlântica e seus ecossistemas associados têm, relativo à exposição ao risco, designa maior ou menor susceptibilidade dela em sofrer algum tipo de impacto. Por isso, é uma situação em que estão presentes três componentes: exposição, incapacidade de reação e dificuldade de adaptação diante da materialização do risco. Assim, percebe-se a vulnerabilidade da Mata Atlântica relacionada aos aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais.
E, para finalizar, o dia 27 de maio foi escolhido como o Dia Nacional da Mata Atlântica, em referência a data que no ano de 1560, o Padre José de Anchieta assinou a Carta de São Vicente, documento que descreveu, pela primeira vez, a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas. Agora, em 2024, recai sobre nós, biólogos, nos manifestarmos sobre as práticas científicas necessitarem uma abordagem cada vez mais complexa e, portanto, demandarem abordagens multidisciplinares para um novo entendimento dessas relações integradoras. Esse contexto geral está descrito em consonância com o relatório da Association for Tropical Biology and Conservation – ATBC, publicado no ano de 2005, intitulado Beyond Paradise: Enfrentando os desafios da Biologia Tropical no século 21, onde foram recomendadas possíveis mudanças para os profissionais envolvidos com a biologia tropical e apresentado, como objetivo principal, a mudança de percepção para o envolvimento e integração das realidades científicas para uma biologia mais moderna em uma percepção multidisciplinar e integrada.
* Prof. Dr. Henrique Machado Dias, conselheiro do CFBio e vogal da Câmara Técnica de Meio Ambiente e Biodiversidade do CFBio.